quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Caracterização da escola literária

No período colonial, o Brasil não possuia as três condições necessárias para a existência de uma literatura nacional (presença de escritores que produzam continuamente, circulação das obras literárias e um público que a leia regularmente). Isto porque no século XVII, o território brasileiro ainda era um vasto inexplorado. Apenas os centros urbanos mais importantes apresentavam alguma organização, por isso as obras que os escritores escreviam, raramente chegavam a ser publicadas, o que dificultava sua circulação. Por este motivo, as obras produzidas neste período colonial não caracterizam uma literatura nacional, e sim uma manifestação.
A manifestação literária barroca é marcada pela presença constante da dualidade. Antropocentrismo versus teocentrismo, céu versus inferno, entre outras constantes. Contudo, não há como colocar o Barroco simplesmente como uma retomada do fervor cristão. A sua grande diferença do período medieval é que agora o homem, depois do Renascimento, tem consciência de si e vê que também tem seu valor - com exemplos em estudos de anatomia e avanços científicos o homem deixa de colocar tudo nas mãos de Deus. Dentro desse período, a literatura brasileira, como tal, tem os primeiros passos para sua definição, principalmente através da obra dos jesuítas, Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.

Gregório de Matos Guerra: Baiano, foi grande expressão barroca da literatura brasileira. Suas obras trazem a carga do conflito e da contradição na mistura do sensual com o religioso, dos valores místicos com os carnais. Na poesia, abrange os temas sacros, satíricos e amorosos, utilizando-se, com incrível propriedade, de todos os recursos que a linguagem escrita pode oferecer.Popularizou-se com a sátira, através da qual atacava e ridicularizava a sociedade colonial, a Igreja e o Governo. Isso lhe valeu o apelido de "O Boca do Inferno" e também um exílio temporário em Angola. De volta ao Brasil, fixou-se no Recife até seus últimos dias. É considerado o maior poeta barroco do Brasil e um dos maiores poetas de Portugal e seus versos são um espelho fiel de um país que se formava.

Lírica Amorosa
- Oposição entre espírito e carne
- O amor é retratado como fonte de prazer e sofrimento

- A mulher é representada como um anjo e fonte de perdição (pois desperta o desejo carnal)

Sacra
- O eu lírico encontra-se dividido entre pecado e virtude (sente culpa por pecar e busca a salvação)

- Analisa o pecado como um erro humano, mas também, como a única forma de Deus cometer o ato do perdão
- O eu lírico, muitas vezes, se comporta como advogado que faz a própria defesa diante de Deus (para tal, usava, até mesmo, trechos da Bíblia)

Satírica
- Olhar crítico revela aspectos negativos da vida na Bahia
- Denúncia à corrupção econômica dos políticos e à corrupção moral dos padres e freiras

- Abusa do sarcasmo e da irreverência para tecer suas críticas.

Epílogos

Que falta nesta cidade?.....................Verdade
Que mais por sua desonra.................Honra
Falta mais que se lhe ponha..............Vergonha.

O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama a exalta,
Numa cidade, onde falta
Verdade, Honra, Vergonha.
[...]

Quais são os seus doces objetos?..............Pretos
Tem outros bens mais maciços?................Mestiços
Quais destes lhe são mais gratos?..............Mulatos.

Dou ao demo os insensatos,
Dou ao demo a gente asnal,
Que estima por cabedal
Pretos, Mestiços, Mulatos.
[...]

O trecho acima faz parte de um poema em que Gregório de Matos ataca vários segmentos da sociedade baiana, e evidencia a postura de repúdio do artista quando o assunto é a classe dos negros e mulatos. O autor usa um tipo de construção na primeira estrofe e outro tipo na segunda, recuperando no seu final as palavras finais de cada verso da primeira. Nota-se também na última parte do trecho que ele dirige sua crítica não apenas aos negros, mas aos que os estimam também.

Padre Antonio Vieira: Nascido em Lisboa, veio muito jovem para o Brasil e aqui faleceu em 1697, na Bahia. Com Vieira, nossa arte literária alcançou seu clímax. A versatilidade da linguagem, o engenho do estilo, o perfeito manejo dos recursos lingüísticos, aliados à erudição e ao excepcional dom da oratória, tudo isso lhe concedeu o título de maior figura no âmbito da literatura sacra do século XVII. Grande escritor, missionário, pregador e político, tornou-se famoso por toda a Europa. Suas Cartas, bem como seus magistrais Sermões, constituem verdadeiras preciosidades da literatura em língua portuguesa no Brasil.

"Não vivemos como mortais, porque tratamos das coisas desta vida como se esta vida fora eterna. Não vivemos como imortais, porque nos esquecemos tanto da vida eterna, como se não houvera tal mundo".

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